América Latina durante a Guerra Fria: caso da Argentina e do Uruguai

  • Argentina: entre ditaduras e processos democráticos
  • Uruguai: ditadura civil-militar e a democracia
  • Operação Condor

ARGENTINA: ENTRE DITADURAS E PROCESSOS DEMOCRÁTICOS    
  
Bandeira da Argentina.

    Apesar de ter sua economia baseada na agropecuária, a Argentina foi o país que mais se industrializou na América Latina durante a primeira metade do século XX, a maioria das industrias concentravam-se em Buenos Aires, onde rapidamente formou-se uma classe operária organizada.  
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Selo argentino destacando a pecuária.
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    Em meio da Segunda Guerra Mundial, a Argentina mantinha a neutralidade, chegando a receber um importante contingente de imigrantes alemães e italianos, somente em 1944 os argentinos rompem relações com a Alemanha e o Japão. Em junho de 1943, militares conservadores que formavam o GOU – Grupo de Oficiais Unidos promove um golpe de Estado governando o país até 1946, quando o general Edelmiro Farrell convoca eleições presidenciais.
Jornal de janeiro de 1944, quando a Argentina rompe com a Alemanha e o Japão.
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    O coronel Juan Domingo Perón destacou-se como secretário do Ministério do Trabalho, ele se aproximou do movimento operário, promovendo direitos sociais dos trabalhadores do campo e da cidade, como férias, aposentadoria, justiça do trabalho, proteção contra acidentes do trabalho, etc. Perón chega em 1944 ao cargo de Ministro da Guerra e vice-presidente da República Argentina (1944-1945).
Presidente Edelmiro Farrell (esq.) e o Vice-Presidente Coronel Juan Perón, abril de 1945.
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    O governo militar de Edelmiro Farrell apoiado por conservadores chegou a prender Perón, contudo os movimentos sindicalistas fizeram vários protestos na Praça de Maio (Plaza de Mayo), sendo que a prisão de Perón podia significar uma ameaça aos direitos sociais conquistados, no fim Juan Domingo Perón foi liberado e concorreu nas eleições de 1946 pelo Partido Trabalhista, sendo o grande vencedor com 53% do votos.
Matar a Perón a cualquier costo - Séptimo Día
Presidente Juan Domingo Perón, tomando posse em 1946.
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    O governo de Juan Domíngo Perón teve como principais caracteristicas: reformou  a Constituição em 1949, incorporando direitos trabalhistas, nacionalizou as águas, riquezas minerais do país como petróleo, gás e carvão. A primeira-dama Eva Perón (Evita) também ganha destaque em obras sociais e a participação feminina na política (1947). Ainda foi fundado por Perón um novo partido, o PJ - Partido Justicialista que representou o pensamento peronista aliado a política trabalhista. 
Juan Domingo Perón e a esposa Eva Perón. 
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    Perón se reelege em 1951 com 63% dos votos, mas a economia argentina entra em recessão, a inflação subiu e os trabalhadores perderam poder de compra, assim greves começaram a se suceder. Perón se indispôs com grupos militares e civis conservadores, assim em 1955 o presidente Perón sofre um golpe de Estado, sendo destituído do poder.
DESDE LOS SATELITES: EVITA, Renunciamiento historico (IV)
Comício organizado pela CGT – Confederação Geral do Trabalho, apoiando o governo peronista.
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    De 1955 até 1958, a Argentina viveu sob um novo regime militar, se autodenominando Revolução Libertadora, dos governos do general Eduardo Lonardi (1955) e o do general Pedro Eugenio Aramburu (1955-1958), desfizeram várias reformas implantadas pelo peronismo. Ocorreram prisões a opositores, sindicalistas e fuzilamentos de militares que eram contra o regime.
Capa da Revista Ahora apoiando o golpe militar de 1955.
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    Nas eleições de 1958 convocadas pelo regime militar, o peronismo foi proibido de participar. Após um pequeno período democrático, os militares tomam novamente o poder na Argentina em 1966. Nesse momento surgem grupos de extrema-esquerda como Montoneros, o ERP - Exército Revolucionário do Povo e a FAR – Forças Armadas Revolucionarias que promovem a luta armada contra o regime militar, para financiar o movimento esses grupos promoveram assaltos a bancos e sequestros. 
Os Motoneros, defendiam o estabelecimento de um estado socialista, a volta de Perón a Argentina e eleições livres. Derrotados na luta armada no final dos anos 1970.

ERP - Exército Revolucionário do Povo, com inspiração marxista-leninista, buscou iniciar focos guerrilheiros contra o regime militar argentino, foi aniquilado nos anos 1970.
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    Crise econômica, o crescimento da oposição e de grupos guerrilheiros levou a impopularidade da ditadura, que acabou convocando novas eleições democráticas em 1973, o Partido Justicialista (peronista) pode participar. Em setembro do mesmo ano era eleito para o terceiro mandato Juan Domingo Perón, tendo como vice-presidente sua terceira esposa Isabel Perón, mais conhecida por Isabelita.
Isabel Perón cumple 90 años: en qué país está viviendo actualmente | Minuto  Argentina
Juan Domingo Perón e sua terceira esposa Isabelita, no retorno de Perón a presidência da Argentina.
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    Contudo em julho de 1974, Juan Domingo Perón faleceu aos 78 anos, sua esposa Isabel Martínez de Perón (Isabelita Perón) passa a ser presidente da República Argentina, contudo disputas entre a extrema-esquerda e a extrema-direita leva a detestabilidade e a um novo golpe de Estado promovido por militares em 1976.
Isabel Perón assumindo o cargo de presidente da Argentina, e governando de 1974 até 1976.
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    A nova ditadura cívico-militar argentina, passou a ser liderada pelo general Jorge Videla entre 1976-1981, ele dissolve o Congresso Nacional e atua com grande repressão aos opositores, a chamada “guerra suja”, sendo que o número de pessoas desaparecidas durante essa ditadura argentina chega a 30 mil pessoas.
Ao centro, o general Jorge Rafael Videla, presidente argentino de 1976 até 1981.
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    Essas constantes prisões, mortes e desaparecimentos levou a denominar esse momento da história argentina também de terrorismo de Estado. Críticas ao regime cresceram a partir de 1981, a mais conhecida foram as Mães da Praça de Maio, sendo mães em busca de seus filhos desaparecidos, outros movimentos sindicais, estudantis e dos direitos humanos também passaram a se manifestar.
Protesto em 1982, das Mães da Praça de Maio em busca de seus filhos.
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    Recorrendo ao patriotismo para ganhar prestígio, o governo argentino atacou e ocupou as Ilhas Malvinas, território britânico reclamado pelos argentinos desde o século XIX, iniciando assim a chamada Guerra das Malvinas de abril a junho de 1982. A resposta do governo britânico foi rápido e a derrota das Forças Armadas argentinas foi contundente. A partir daí o governo militar perdeu o pouco prestígio que tinha diante da sociedade.
Há 27 anos, o ditador Galtieri celebrava desembarque nas Malvinas

La cobertura de la Guerra de Malvinas: del “estamos ganando” al “¿tenían  frío?”
Capa da revista argentina Gente y la Actualidad em dois momentos do conflito (vitória acima e abaixo na derrota).
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    Após uma eleição parlamentar foi formado um Colégio Eleitoral de 1983 e por meio de uma eleição indireta sagrou-se vitorioso, Raúl Alfonsín da UCR – União Cívica Radical, era a volta da democracia na Argentina. O presidente Alfonsín governou o país enfrentando uma grave crise econômica devido a hiperinflação, protestos das vítimas da "guerra suja" que exigiam punições aos militares envolvidos com o desaparecimento de presos políticos, militares principalmente de baixa patente ameaçando revoltas contra possíveis processos, etc.
Raúl Alfonsin, presidente argentino de 1983 até 1989.

Papel-moeda de 1.000 australes, a moeda argentina de 1985 até 1991.
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    Posteriormente os presidentes militares argentinos durante o período chamado “guerra suja” que cometeram crimes lesa-humanidade foram punidos, o presidente general Jorge Rafael Videla foi condenado a prisão perpétua em 2010, o mesmo ocorreu com o último presidente da ditadura argentina, o general Reynaldo Bignone.
A lição da Argentina: o ex-ditador Jorge Rafael Videla vai morrer na prisão  - ISTOÉ Independente
Sentados durante um dos julgamentos Jorge Videla e Reynaldo Bignone, condenados devido ao fuzilamento de presos políticos e até de sequestros de bebês.
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   URUGUAI: DITADURA CIVIL-MILITAR E A DEMOCRACIA
 
Bandeira do Uruguai

    Durante o período de 1952 até 1967, o Uruguai foi governado por um Conselho Nacional, sendo abolida a figura de um presidente. Politicamente o país era controlado por um bipartidarismo, se alternando no poder desde o século XIX, o Partido Colorado e o Partido Nacional (conhecido também como Partido Blanco).
Partido Colorado

Partido Nacional (Partido Blanco)
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    Em 1964 é fundado o principal movimento de extrema-esquerda, o MLN-T - Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros, que inicia a luta armada para implantar um regime de inspiração marxista-leninista, os principais líderes foram Raúl Sendic, Eleuterio Fernández Huidobro e Mauricio Rosencof e José Mujica. O grupo praticava atos sequestros e assaltos para financiar o movimento.
Raúl Bebe Sendic fue un pensador sólido, el más agudo, el más consecuente,  y cuando había que jugarse estaba en primera fila – Resumen Latinoamericano
Um dos mais importantes líderes do MLN-T, Raúl Sendic com Fidel Castro.

Bandeira do movimento Tupamaro.
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    Reformas institucionais levam a recriação do cargo de presidente em 1966. Em 1973 ocorre um autogolpe de Estado, quando o presidente Juan Maria Bordaberry com apoio dos militares fechou o Congresso Nacional, perseguiu sindicatos e aumentou a repressão a opositores. A ditadura civil-militar uruguaia manteve-se no poder até 1985.
Jovens do Restelo: Presidente Juan María Bordaberry RIP
Eleito democraticamente, o presidente Juan Maria Bordaberry governou de forma ditatorial de 1973 até 1976, quando foi removido do cargo pelos militares.
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   Com o desgaste da Guerra Fria e a abertura política na maioria dos países da América Latina, o último presidente general uruguaio Gregorio Álvarez aceita deixar o poder em 1985. Com o processo de abertura democrática, os Tupamaros abandonam a luta armada e nas eleições presidenciais de 1985 vence o candidato Júlio Maria Sanguinetti do Partido Colorado, o Uruguai voltava a ser uma democracia.
Más integración, más democracia | 1987 I 88 | Página12
Os três presidentes civis no final dos anos 1980: Raúl Alfonsín da Argentina (esq.), Júlio Maria Sanguinetti do Uruguai (centro) e a direita o presidente José Sarney (Brasil).
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  OPERAÇÃO CONDOR 
    Foi uma associação de sistemas repressivos do Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai e Bolívia, a primeira reunião ocorreu em 1975, inicialmente seriam trocadas informações de opositores, exilados, esquerdistas e grupos de luta armada. 

    Em uma fase mais avançada da Operação Condor envolveu sequestros, assassinatos e atentados a opositores dos regimes autoritários constituídos, um dos casos mais conhecidos foi o atentado que resultou a morte do general aposentado Carlos Prats em Buenos Aires.
Atentado organizado pela polícia secreta de Pinochet, levando a morte do general chileno Carlos Prats em Buenos Aires (1974).
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